terça-feira, 3 de julho de 2012

Porto Alegre, lotação esgotada

Originalmente publicado no Sul 21

Quente, plano e lotado. É assim que o jornalista e colunista do New York Times, Thomas Friedman, vê o planeta Terra. Num relato surpreendente sobre o consumo desenfreado de energia pelos americanos, o escritor mostra os danos que causamos ao planeta e a condição quase irreversível a que nos submetemos. Segundo ele, é preciso adotar atitudes radicais para a manutenção do ambiente nos próximos anos, do contrário, teremos que nos preparar para a extinção.

Vivemos o que ele denomina de a Era da Energia, na qual o ser humano está preso à teia econômica e política da malha da sustentabilidade versus o consumo. Todos querem mais conforto, mais veículos, mais fábricas, mais tudo. Porém, o preço a ser pago parece que será alto demais para todos. É preciso reavaliar a maneira como consumimos e empreendemos energia nos diferentes aspectos de nossas vidas.

E como a nossa Porto Alegre se insere nesta crise, já que nosso crescimento demográfico é quase zero. Não somos uma cidade que inchou como outras capitais brasileiras. Mas de carros estamos lotados faz tempo e cada vez mais. Por isso, considero um erro diminuir ou eliminar o IPI dos automóveis. Deveríamos é baixar os tributos de outros produtos. É claro que não sou contra o consumo e o crescimento econômico, mas nosso crescimento precisa ser mais equilibrado – econômica e ecologicamente.

Como bem diz Friedman, não podemos ser apenas consumidores e os chineses, produtores. E nenhum de nós pode permitir que as mercadorias produzidas e consumidas sejam fabricadas ou utilizadas de formas prejudiciais ao meio ambiente, como acontecia antes. Essa maneira de melhorar o padrão de vida é simplesmente insustentável.

Mas também não são apenas nossas ruas, ônibus e lotações que estão lotados. Lotadas também estão nossas emergências e especialmente nossos postos de saúde, com gente doente e sem atendimento. É claro que temos carros demais. Mas lotadas também estão as casas e casebres da periferia. Mesmo com nossos programas como o Minha Casa, Minha Vida ainda existem favelas com moradias insalubres habitadas por gente amontoada. Nesses locais não se vive, se sobrevive.

Cheios de estorvos também estão nossas calçadas. Será que ainda precisamos de tantos orelhões e caixas de correio? Sem falar naqueles “tocos” de concreto ou de ferro, uma espécie de totem? Citando apenas estes exemplos, já percebemos o quanto nossas calçadas impedem o andar dos transeuntes, cadeirantes e carrinhos de bebê.

A lotação está esgotada em praticamente todos os nossos contêineres da cidade. É lixo transbordando, afora a mistura de lixo orgânico com lixo seco. O fenômeno também pode ser visto nas nossas creches e escolas de educação infantil. Aqui, deve residir um dos maiores déficits de novos espaços para nossas crianças de 0 a 5 anos. E à noite, quando não estão fechadas as escolas de Ensino Médio, as salas estão com lotação esgotada, por isso estamos fazendo até abaixo-assinado para resolver este dilema de tantos jovens que gostariam de estudar, especialmente no período noturno, e não encontram escola e quando encontram estão com lotação esgotada. E faltam Lotações na cidade. E queremos também Lotações Transversais. Pois como dissemos acima, ônibus andam lotados e atrasados. E para mim faltam táxis também. Lotados ou sumidos, eles já não atendem como deveriam. O Brasil está crescendo e a lotação esgotando. Crescer é desenvolver serviços públicos privados que atendam à demanda, alinhados à elevação de estima, desenvolvimento social e econômico, prazer e fruição.

Como resolver essas situações? O primeiro passo começa pela consciência das pessoas que se deslocam e vivem nos centros urbanos. Elas devem estar atentas para esses problemas e tentar minimizá-los com atitudes simples, como não jogar o lixo na rua, fazer coleta seletiva, tentar diminuir o uso de transportes que poluam, entre outras.

Fora isso, o fato dos centros urbanos aglomerarem pessoas com uma consciência coletiva mais abrangente também permite que as soluções sejam encontradas, estudadas e refletidas. Como exemplo, cito a Serenata Iluminada na Redenção, o Piquenique noturno do Parcão, e o Cidade Baixa em Alta. Todas iniciativas populares que visam trazer de volta aos grandes centros cultura, entretenimento, música, segurança e diversão através da ocupação dos espaços públicos.

Adeli Sell é vereador e presidente do PT de Porto Alegre

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