quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Artigo - Da sujeira à criminalidade: como o cocô do seu cachorro contribui para a insegurança na cidade

Adeli Sell
Vereador e presidente do PT



Porto Alegre é uma cidade ímpar: da arquitetura aos monumentos públicos. Infelizmente poucos escapam da pichação. Não há prédio com acesso à calçada que não esteja pichado. Monumentos públicos, inclusive os mais emblemáticos, estão marcados pela tinta provocativa daqueles que acham que desrespeito é atributo. Talvez ninguém se importe, pois não há como olhar o horizonte: o caminhante desatento que não tropeça na calçada desnivelada ou esburacada, pisa num cocô de cachorro.

É inconcebível que monumentos que identificam a cidade, como o Júlio de Castilhos, na Praça da Matriz, uma das obras mais encantadoras e símbolo do Positivismo, estejam inteiramente pichados. Isso acontece na Praça onde estão localizados o Palácio do Governo, a Assembléia Legislativa, o Tribunal de Justiça, o Ministério Público, a Cúria Metropolitana e o Teatro São Pedro. Como tamanha estrutura pública não é capaz de intimidar quem deixa seus rastros? Do chão, às alturas; a falta de limite desenha a cidade e aglutina a senhora de cabelinhos brancos que não recolhe o cocô do seu cachorro e o pichador e suas acrobacias.  Ao que parece, a tolerância do Poder Público é ilimitada.

Pode parecer fruto de uma mente conservadora ou quadrada, mas o cuidado com a cidade exige uma disputa de espaço em que necessariamente deve ganhar o interesse da maioria: limpeza, iluminação, manutenção e acessibilidade. Mesmo a mais culta das criaturas poderá sucumbir ao meio e se permitirá um papelzinho no chão quando num cenário de depredação. De que importa? É só uma bituca. Ou, infelizmente eu não trouxe o saquinho.

De maior ou menor gravidade, os crimes são cometidos diariamente e isto só tem contribuído para uma concepção coletiva de impunidade e irrelevância com àquilo que é coletivo.

Monumentos são roubados de parques e praças para serem derretidos e vendidos a peso, o mesmo se faz com cabos e fios de luz. Telefones públicos, caixas de correio e contêineres de lixo são queimados. Paradas de ônibus, além de sujas, são suportes para todo tipo de cartazes, que anunciam de cursos variados a sexo fácil.

Sujeira gera sujeira, depredação gera mais depredação. O lixo largado nas ruas vai parar nos esgotos pluviais gerando inundações a cada chuvarada. Como ensinar uma criança a não jogar lixo no chão quando seu entorno está coberto de lixo alheio, tolerado e quase institucionalizado? O vandalismo e a sujeira são parceiros inseparáveis, bem como a percepção de insegurança da comunidade.

Cestos destruídos, lixo espalhados, monumentos roubados, cocô de cachorro nas calçadas, o encanto da cidade se perde, junto com o humor de quem não consegue andar sem sobressaltos pelas ruas.

Em 2001 foi aprovada a lei 8440, de minha autoria, que estabelece a obrigatoriedade de que os donos recolham os dejetos de seus animais da via pública. Foi um avanço importante. Há quem considere pouco relevante frente a temas mais robustos, mas acredite o impacto do cocô de cachorro nas calçadas esconde um comportamento nefasto de egoísmo e falta de civilidade.

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