quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Como se faz um best-seller...ou Picaretagem biográfica


O jornalismo cultural de Rio de Janeiro e São Paulo é feito de provincianismo e conivência com algumas editoras. A Folha de S. Paulo é assessoria da Cia. das Letras. É por isso que eu mesmo me resenho. Um jornalista chamado Lira Neto decidiu que falta uma biografia “moderna” de Getúlio Vargas, embora livros sobre a vida do presidente pululem, inclusive o meu romance biográfico “Getúlio”. Lira resolveu publicar logo três volumes. Pela poderosa Cia. das Letras. Ainda faltam pelo menos 18 meses para o primeiro volume sair, mas já pipocam as notinhas e textos sobre a obra. Como é bom ter amigos!
Há dois dias, a Folha.com, com a assinatura de Roberto Katz, pagou um mico maior que o do Inter contra o Mazembe e o do Grêmio com suas caixas de som para a recepção a Ronaldinho. Era mais um levanta-bola para o tal Lira Neto: "Após repetidas visitas a São Borja (município onde Getúlio nasceu, no Rio Grande do Sul) e Ouro Preto (onde estudou em Minas Gerais), descobriu que Getúlio era falsamente acusado de dois assassinatos". Uau! Qualquer um sabe disso. Está em livros, inclusive no meu. Lira é novato. A Folha engoliu a “revelação” dele: "Pela primeira vez alguém teve acesso aos inquéritos de dois assassinatos atribuídos pelo Carlos Lacerda a ele. Pelo menos nesses casos, o Getúlio estava limpo".
Sobre o assassinato do estudante Carlos de Almeida Prado Jr., em Ouro Preto, quando Getúlio era menino, não faltam autores: Ciro Arno, Fernando Jorge, Pedro Rache. Um dos últimos a tratar disso foi José Louzeiro, em “O anjo da fidelidade, a história sincera de Gregório Fortunato”. O inquérito é conhecido. Protásio, irmão de Getúlio, foi absolvido por falta de provas pelo juiz Augusto de Lima. O mico transforma-se em orangotango com o caso de um índio. Lira Neto para a Folha: "Uma das acusações dizia respeito à morte de um cacique, em 1920, por um homem chamado Getúlio Dornelles Vargas. O processo se referia a esse Getúlio como nascido em ano e município que não condiziam com os do ex-presidente. Pensei: ou está errado ou é outro". Que pensador! Que dedução!
Continua a Folha: "Após pesquisar as certidões de nascimento, descobriu que de fato havia, no Rio Grande do Sul, um segundo Getúlio Dornelles Vargas, homônimo ao presidente”. Lira conclui: “Era um erro histórico que estava sendo perpetuado". Felizmente ele apareceu para corrigi-lo. Em meu livro "Getúlio" está escrito assim: "Lutero foi categórico: 'Era outro homem com o mesmo nome do meu pai. Isso foi esclarecido na época'. No seu livro, “Getúlio Vargas, a revolução inacabada”, de 1988, Lutero Vargas trata do crime de Ouro Preto e do artigo calunioso de Carlos Lacerda, publicado em 10 de agosto de 1954, com o título de “Quatro crimes de morte na vida pregressa de Getúlio Vargas”, sendo o primeiro o assassinato de Almeida Prado e o quarto o atentado aos índios. Lutero explica a “imputação ridícula”: “O relatório foi apresentado em 15 de agosto de 1923; um dos assassinos chamava-se Getúlio Vargas e o outro Soriano Serra. Os dois foram presos em flagrante. O que tem Getúlio a ver com isso? Somente o nome”.
Lacerda era um mentiroso notório.
Lira Neto tem tudo para ser picareta histórico.

Postado por Juremir Machado da Silva - 13/01/2011 10:03

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